sábado, agosto 2
Estive pensando e decidi me afastar das pessoas de uma forma geral. Era melhor assim, para elas e para mim. Não nos machucávamos. Não haveria desentendimentos.
Eu tinha um temperamento difícil de lidar. Sem contar nos dias em que nem eu mesmo me aguentava. Era muito para ser e sentir, era muito para o que eu podia entender. Então, em um encontro casual com a mentira eu descobri como ser um pouco mais sociável (mesmo sendo contra todos os meus valores, eu era apenas um personagem, enquanto as cortinas abriam e se fechavam eu estava lá sorrindo em silencio com doces olhos de robô). Enfim, eu era um cidadão de papel. Como todas as outras pessoas. Eu omitia os meus gostos e opiniões. Eu escondia toda a subjetividade. Entre todos os “bons dias” ou o “não, obrigada” existia uma pessoa que não queria ser educada, que só queria seguir seus instintos, com um animal que não que ser incomodado. Entre tantas lapidações, eu só queria ser a matéria bruta. Em estado primitivo, eu era mais feliz, sem todas as preocupações de chegar no horário certo, na hora marcada. Sem as expectativas de que eu fosse realizar o que se era esperado. Eu era uma farsa e pronto. Estava tudo tranquilo. Eu estava me adaptando ao viver em banho maria, nas fronteiras dos meus desejos. Eu tinha morrido, mas continuava vivendo como um fantasma.

Eu não tenho mais nada a falar sobre o silêncio que se instalou dentro de mim. Criei espaços negros entre mim e as pessoas. Sem que elas percebessem olhavam para um gélido robô. Dentro daquele par de olhos, só existia a escuridão, o medo, a incerteza, as dúvidas, o remorso e a raiva. Esta me consumia e se desfazia em uma fina camada de letargia. Ali também deveria existir um ser humano, mas eu não sabia onde ele se encontrava. Continuo pensando e me afastando, até não haver possibilidade de conexão. Um fim imediato para as razões e emoções. Continuo indo... Até não ir mais. 

Sophia de Andrade

0 comentários:

Postar um comentário

Letícia Iandeyara. Tecnologia do Blogger.
Cada dia eu me reinvento, na dor, na alegria, no amor, na ausência. Não sei me definir. Só sentir.

Arquivo do blog