terça-feira, março 1
            Recentemente eu li algo que dizia: Você tem duas possibilidades, ser feliz ou infeliz. Você escolhe o que você quer ser. Quando você acorda pela manhã você deve fazer a sua escolha, ser feliz ou infeliz. Hoje eu acordei em cima do muro, não sabia se queria ser feliz ou infeliz. Mas um lado balançava para a infelicidade. Hoje eu acordei e quis ficar na cama. Mas quando crescemos, ganhamos as responsabilidades. Eu poderia ficar na cama e dormir um pouco mais. No entanto, eu levantei, com muita preguiça (e infeliz). Eu poderia ter ficado em casa, mas tinha compromissos com uma paciente, com minha colega e com meu professor. Então eu fui e fui torcendo para que fosse rápido e eu pudesse voltar logo para casa, para dormir um pouco mais. Contudo, a vida não é como a gente quer, ela flui num fluxo que não sabemos onde vai parar. Querendo estar em casa às 10, eu somente fui as 12:40. Com um pouco de fome e cansaço, eu cheguei, mas não foi para descansar, apenas almoçar e lá já estava eu, voltando para a faculdade.
           Me pergunto quantas vidas não são assim, cheia de imprevistos e situações que fogem da nossa ossada. Mais imprevistos aconteceram, como atender mais um paciente e lá se foi a tarde. Esperando chegar em casa às 17 e começar a estudar para aquela prova que todos estão temendo. São 19:00 horas e eu ainda não cheguei em casa. No entanto, eu estava bem, estava mantendo o controle, estava bem (não estava totalmente infeliz). Nesse meio caminho entre a faculdade e minha casa, eu parei no mercado, fazendo as contas do que levar para não gastar muito.
          O mercado estava lotado. Pensei em quantos minutos eu gastaria ali ao invés de estar em casa estudando. De repente, estou no caixa, esperando uma fila enorme. As pessoas reclamavam. Eu também reclamava. Recentemente, tinha feito uma promessa de não reclamar, mas de vez em quando eu a quebro inconscientemente, acabo reclamando do calor ou do cansaço, estou trabalhando para conseguir parar de reclamar. Só agradecer. Então, acontece algo. O motivo de estar escrevendo neste exato momento ao invés de estar estudando.
         Perto de chegar a minha vez no caixa do mercado, um homem pede uma ajuda. Queria uma lata de leite para a sua filha que estava em casa. No automático, eu disse que não tinha dinheiro. Ele pediu para o rapaz que estava passando as compras, o rapaz no automático disse: "Não tenho como ir pegar, estou passando as compras já." O homem que necessitava da ajuda se prontificou a pegar o leite. Então o rapaz fugiu da situação dizendo que depois conversava com ele. Depois quando?
            Ele continuou a pedir a mais uma, duas, três pessoas. E ninguém podia ajuda-lo. Aquilo partiu o meu coração.
           Por que somos insensíveis? Lembrei de uma situação em que aconteceu comigo, ia viajar para casa dos meus pais e só tinha o cartão para pagar a passagem, a rede do cartão estava fora do ar e assim só poderia comprar a passagem no dinheiro, no entanto, eu só tinha 5 reais no bolso. Chorei, implorei pro homem do guichê me ajudar de alguma forma, mas ele não podia. Sabia que se pedisse ajuda a qualquer pessoa ali receberia apenas um não. Então, chorei mais um pouco e tive que pegar outro ônibus, em outro lugar. É uma coisa fútil, se for parar pra pensar. Mas naquele momento aquela situação era tudo. Era a minha frustração e angústia de não poder viajar naquele exato momento.
          Voltando para a cena do mercado, mas sem me esquecer de todos os contextos em que somos desafiados. Tenho apenas uma coisa a dizer que pessoas de merda, que seres humanos de merda, hipócritas, egoístas. Todos de merda. Eu, você, a tiazinha que frequenta a igreja, o tiozinho que tem dinheiro mas acha que dez reais vai deixa-lo pobre. Então, eu comprei o leite para a filha daquele homem, se ela existe ou não, não é problema meu. Naquele momento, senti apenas uma coisa: bondade. Quis ser boa. Apenas isso. Não quis inflar meu ego. Tentei praticar a bondade. Porém, com isso não aguentei segurar a onda. Meus olhos queriam umedecer.
          O moço do caixa perguntou se estava tudo bem. Então, sem pensar muito eu disse: "Não." Com um tom tristeza e e não de ignorância. Ele perguntou o por quê e disse que eu deveria ter respondido que estava tudo bem. As pessoas são isso, uma superficialidade, um monte de bosta. Eu queria dizer: Senta ai que vou te contar tudo o que está passando aqui dentro. Mas só disse: Você perguntou e eu disse a verdade. Pra finalizar o papo ele disse que todos nós deveríamos ser felizes.
            Concordo, todos nós deveríamos ser felizes. Mas será que somos? Será que podemos ser felizes? Nem sempre podemos acordar e ser felizes. No entanto, sabemos que todos os dias devemos fazer uma escolha: ser feliz ou infeliz. Hoje eu fiquei em cima do muro, mas ainda acho que dá tempo de ser feliz, pelo menos tentarei.
           Será que o homem que pediu o leite é feliz? Será que sua filha é feliz?


"Um mendigo, bêbado ou um homem que julguei mal, me disse hoje por volta das duas da tarde: por que essa cara amarrada? O futuro é a morte. O que nos aguarda é terra na cara. Não sei se ele ouviu essa frase em algum lugar ou saiu de sua cabeça, mas ele tem razão, o futuro ta lá, distante, enquanto hoje eu decidi ficar em cima do muro, nem ser feliz ou infeliz. Preciso fazer melhor minhas escolhas, afinal o fim do jogo já sabemos: é terra."


Letícia Iandeyara.


         



           

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Letícia Iandeyara. Tecnologia do Blogger.
Cada dia eu me reinvento, na dor, na alegria, no amor, na ausência. Não sei me definir. Só sentir.

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